Reforma tributária em 2026: empresas enfrentam desafios; apenas 11% se consideram preparadas
Área: Fiscal Publicado em 24/10/2025Reforma tributária em 2026: empresas enfrentam desafios; apenas 11% se consideram preparadas
A reforma tributária, considerada a mais profunda mudança no sistema de impostos sobre o consumo já realizada no Brasil, está prestes a iniciar sua fase de transição em 2026. A menos de um ano do marco inicial, o ambiente corporativo brasileiro revela preocupação, insegurança e falta de preparo.
Um estudo conduzido pela Robert Half, consultoria especializada em recrutamento e gestão, aponta que apenas 11% das empresas brasileiras se declaram totalmente prontas para enfrentar as novas regras. Em contrapartida, 50% admitem que poderiam estar mais preparadas, enquanto 37% reconhecem que estão despreparadas, ainda que já tenham iniciado análises sobre os impactos.
Os dados reforçam a necessidade de planejamento imediato, tanto na área fiscal quanto no capital humano, já que a reforma impactará toda a cadeia de negócios, desde logística até precificação.
O que muda com a reforma tributária?
Do sistema atual ao modelo dual
A partir de 2026, o Brasil iniciará a substituição gradual de um sistema considerado complexo, burocrático e ineficiente. Hoje, convivem tributos como:
PIS (Programa de Integração Social);
Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social);
IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados);
ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços);
ISS (Imposto sobre Serviços).
No novo modelo, esses tributos serão fundidos em dois grandes impostos:
CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), de competência federal;
IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), de competência compartilhada entre estados e municípios.
Período de transição até 2033
A complexidade do processo se deve ao fato de que até 2033 as empresas terão de operar em dois sistemas ao mesmo tempo: o atual e o novo. Esse período de sobreposição exigirá investimentos adicionais em pessoal, tecnologia e processos internos.
Preparação insuficiente das empresas
Estudo revela cenário de alerta
Segundo Vitor Silverio, gerente da Robert Half, a reforma deve ser vista não apenas como uma questão fiscal, mas como uma “reforma de negócios”.
“O impacto será sentido em toda a cadeia operacional, logística e de precificação. Não se trata apenas de ajustar a área tributária, mas de repensar como a empresa funciona”, destacou.
Os números do levantamento mostram:
11% das empresas dizem estar totalmente preparadas;
50% acreditam que poderiam estar mais bem preparadas;
37% reconhecem estar despreparadas.
Disputa por talentos especializados
O estudo aponta ainda que 53% das empresas pretendem contratar ao menos três novos colaboradores para lidar com a transição tributária. Entre as grandes companhias, o percentual chega a 58%.
As contratações terão foco em:
Substituir profissionais alocados exclusivamente para o projeto da reforma (69%);
Contratar especialistas em tecnologia para parametrização de sistemas (44%);
Auxiliar no diagnóstico dos impactos da nova legislação (37%).
No entanto, a disputa será intensa: o Brasil vive um momento de baixo desemprego e escassez de profissionais qualificados, o que pode encarecer ainda mais o processo.
O papel da contratação temporária
Crescimento da demanda por gestores interinos
Entre abril e junho de 2025, a demanda por gestores temporários para projetos ligados à reforma cresceu 24%. Esse movimento reflete a busca das empresas por flexibilidade e custo-efetividade.
De acordo com o advogado Bruno Medeiros Durão, especialista em direito tributário:
“A reforma inaugurou um ciclo de projetos intensivos e de duração definida, que vão desde o mapeamento de impactos até a revisão de contratos e a reprogramação de sistemas de gestão.”
A solução tem sido adotar núcleos internos permanentes apoiados por consultores temporários, modelo que reduz custos e permite maior agilidade.
Complexidade e insegurança jurídica
Desafios da transição
A fase de sobreposição entre sistemas é apontada como o maior desafio. O advogado Bruno Damasceno, sócio do Bandeira Damasceno Advogados, explica:
“Durante essa fase, as empresas terão de operar simultaneamente sob as regras atuais e sob o novo modelo dual, o que inevitavelmente ampliará a complexidade.”
Além disso, há a necessidade de investimentos em sistemas de gestão, parametrização fiscal e treinamento de equipes.
Insegurança jurídica
Outro fator que gera apreensão é a incerteza sobre a aplicação prática da reforma. O advogado tributarista Jonas Filho alerta que a unificação de tributos federais, estaduais e municipais pode levantar dúvidas, como a jurisdição para julgamento de créditos tributários.
“Existe também uma certa insegurança quanto à recuperação de crédito e sobre qual jurisdição será responsável. Esse tipo de incerteza tende a aumentar a judicialização no início da reforma.”
Impactos no setor tributário e nas empresas
Crescimento do setor tributário
A previsão de especialistas é que o setor de consultoria e advocacia tributária cresça exponencialmente nos próximos anos, já que as empresas que se anteciparem terão vantagem competitiva crucial.
Efeitos no dia a dia corporativo
As mudanças afetarão:
Política de preços e margens de lucro;
Estrutura logística e contratos de fornecedores;
Planejamento de investimentos de médio e longo prazo.
Expectativas a longo prazo
Redução da burocracia
Apesar dos desafios imediatos, a expectativa é que a reforma traga benefícios estruturais após a fase de transição.
O advogado André Luiz Andrade, sócio do escritório Chalfin, Goldberg & Vainboim Advogados, afirma:
“Hoje o Brasil é um dos países em que os contribuintes mais gastam tempo para cumprir obrigações tributárias. Após a extinção dos tributos atuais, a tendência é de maior eficiência no dia a dia.”
Padronização e escrituração única
Especialistas também destacam a possibilidade de redução de obrigações acessórias. A substituição de múltiplas declarações fiscais por uma escrituração única e centralizada permitirá padronização nacional e simplificação para as empresas.
Urgência da adaptação
A hora de agir é agora
Para Vitor Silverio, da Robert Half, o maior erro estratégico seria esperar 2026 para iniciar a preparação:
“Quando a nova regra começar a valer, pessoas e processos já precisam estar prontos. A hora de agir é agora.”
A mensagem é clara: a reforma tributária não é apenas uma mudança legal, mas uma transformação estrutural nos negócios, que exige planejamento, investimentos em tecnologia e qualificação profissional.
Fonte: Seu Crédito Digital