Reajuste médio de medicamentos deve ser de 3,8%

Área: Fiscal Publicado em 19/02/2025

Reajuste médio de medicamentos deve ser de 3,8%

O reajuste médio dos medicamentos neste ano deve girar na casa dos 3,8% (variando de 2,5% a 5%, conforme a competitividade do remédio no mercado), segundo estimativas dos bancos Citi, Itaú BBA, BTG, Goldman Sachs e XP. Se confirmado, será a primeira vez, após sete anos, que o repasse de preços dos medicamentos fica abaixo do IPCA e também será o menor desde 2018. O indicador chega num momento em que o governo está pressionado para controlar a inflação - ponto que está afetando a popularidade do presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva.

A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulga o reajuste oficial no fim de março, com os novos preços valendo a partir de 1º de abril. Na segunda-feira (17), o Ministério da Fazenda divulgou nota técnica informando que o Fator Y, uma das variáveis da fórmula de cálculo do repasse, ficou em zero. Esse número veio abaixo das estimativas iniciais do mercado que projetavam aumento de 4% - que agora foi revisto para 3,8%. O Valor havia antecipado, no último dia 28 de janeiro, que o reajuste ficaria abaixo da inflação.

Esse descasamento deve afetar as redes de capital aberto, que registram melhora de lucratividade imediata no segundo trimestre, quando as novas tabelas chegam. Há um ganho em compra de estoques com preços antigos, e revenda dos produtos com a nova tabela.

Segundo os analistas dos bancos, a expectativa é de impacto negativo sobre as empresas Raia Drogasil, Hypera, Blau, Viveo e Oncoclínicas, que têm contratos vinculados ao índice CMED, da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos.

“Observamos que 77% das classes terapêuticas regulamentadas (incluindo alguns sucessos de venda como o GLP-1), atualmente, estão dentro do nível de reajuste 3 (ou seja, 2,5% de aumento de preço), seguido por 15% no nível 2 e 8% no nível 1”, destacam os analistas do Citi, Leandro Bastos e Renan Prata.

A XP acredita que um dos indicadores da fórmula de reajuste dos medicamentos, o Fator Y (divulgado ontem e que ficou abaixo das projeções iniciais do mercado), deve continuar pressionando os reajustes no ano que vem, “já que, em meio à queda dos custos de energia e câmbio, a redução não é repassada aos consumidores, mas como um saldo para atuar como deflator”.

Na percepção dos analistas do Itaú BBA, Vinicius Figueiredo e Rodrigo Gastim, as varejistas farmacêuticas são mais afetadas com “impacto direto nas margens das companhias dado que nos últimos dois anos a inflação e os reajustes ficaram praticamente iguais”.

Figueiredo e Gastim acreditam que o lucro da RD Saúde será 7% menor do que as estimativas anteriores por conta dos reajustes mais baixos, enquanto em 2026 será 8% menor. Há também risco de exclusão do ICMS da base do PIS e Cofins, o que deixaria os reajustes menores ainda. Essa visão é compartilhada pelas equipes do Goldman Sachs e BTG.

O Sindusfarma, sindicato da indústria farmacêutica, informou que a definição do reajuste anual dos medicamentos ainda depende da divulgação do IPCA, o que dificulta uma previsão pela área técnica. “O certo é que, sobre o índice de reajuste, haverá um desconto de 1,5 a 2 pontos percentuais em cerca de 25% do total de medicamentos, enquadrados na chamada Lista Negativa, sob os quais incide o PIS/Cofins”. A Interfarma informou que aguarda a divulgação oficial do reajuste.

O cálculo do reajuste é feito com base na seguinte fórmula: IPCA - Fator X + Fator Y + Fator Z e é divulgado pela CMED.

Até o momento, já foram informados o fator Y (zero), e o fator X, ou de produtividade (2,459%). Por conta dessas variações, o reajuste dos preços de medicamentos no país neste ano deve ocorrer em três níveis pela primeira vez desde 2021.

O percentual positivo de 2,459% é um cálculo que indica que houve ganhos de produtividade no setor no último ano e, nesse caso, a recomposição da inflação tem diferentes variações. É algo definido para não “nivelar” o mercado num único reajuste geral a todas as redes.

Os medicamentos classificados no nível 1, mercado em que há um maior volume de genéricos, consequentemente concorrentes com preços mais baixos, o repasse previsto é de 5%, ou seja, integral do IPCA. Nessa categoria, que inclui remédios como omeprazol (gastrite e úlcera) e amoxicilina (antibiótico), o reajuste é maior para compensar o baixo preço.

No nível 2, onde há uma média concorrência com medicamentos como lidocaína (anestésico local) e nistatina (antifúngico), a estimativa do mercado é de um reajuste de 3,8%. Já no nível 3, onde estão classificados remédios monopolistas, como ritalina (tratamento do déficit de atenção e hiperatividade) e stelara (psoríase), o aumento esperado é de 2,5%

Fonte: Valor Econômico