Mercado vê risco inflacionário em alta e procura por NTN-Bs aumenta
Área: Fiscal Publicado em 28/05/2021
Com o risco de piora do quadro inflacionário no centro das atenções, o mercado tem adotado postura mais defensiva nas últimas semanas e colocado nos preços dos ativos níveis de inflação cada vez mais elevados tanto para este ano quanto para 2022. A procura por Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) aumentou de forma significativa e levou o Tesouro Nacional a realizar ontem o maior leilão da história em termos de risco.
O maior risco colocado no mercado se deveu, principalmente, à venda de 1,5 milhão de NTN-Bs com vencimento em maio de 2055. Quanto maior o prazo, mais alto é o risco que o mercado tem de absorver, o que gera uma elevação dos juros. Ontem, as taxas futuras subiram, em um movimento de ajuste após o megaleilão de NTN-Bs.
Com a venda de papéis de longo prazo, o Tesouro colocou no mercado R$ 16,7 milhões em risco (dv01, métrica que ajuda a verificar a quantidade de risco que o mercado absorve). O aumento da demanda dos papéis atrelados à inflação vem, justamente, numa temporada em que os riscos estão em alta e têm impulsionado as taxas de inflação embutidas nos ativos.
No momento em que o horizonte relevante da política monetária já contempla integralmente o ano-calendário de 2022, o contraste entre as projeções dos economistas no Boletim Focus e as taxas de inflação embutidas nos contratos futuros de cupom de IPCA (DAP) é bastante relevante. Enquanto no Focus a mediana das projeções aponta para uma inflação de 3,64% em 2022 - o que, por si só, já preocupa o BC diante do risco de desancoragem das expectativas -, a inflação implícita de 2022 extraída do DAP está em 5,17%, bem acima, portanto, do centro da meta (3,5%).
Na semana passada, o diretor de política monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, destacou a piora na dinâmica da inflação implícita em relação às expectativas contidas no Focus e disse que o movimento recente chama a atenção do Copom. “A política monetária tem que estar bastante atenta”, disse. Para ele, o início acelerado do processo de normalização dos juros e a manutenção do ritmo forte - de 0,75 ponto - “é a chave para controlar as expectativas e garantir que esse choque fique circunscrito a 2021 e seja, de fato, temporário”.
O economista-chefe da Bradesco Asset Management (Bram), Marcelo Toledo, projeta um ciclo ininterrupto e total de ajuste da política monetária. Para ele, a Selic deve terminar o ano em 6,25% e chegar a 6,5% em 2022. “O motivo principal está na percepção de uma atividade mais forte e de que o hiato do produto não é tão grande quanto os modelos tradicionais indicam”, diz.
Com projeção de crescimento de 4,3% neste ano, Toledo lembra que o impacto da segunda onda de casos de covid-19 na atividade foi pequeno. Assim, para o economista, a leitura de maior resiliência da economia contribui para uma migração da taxa de juros para o nível neutro. Além disso, a Bram trabalha com uma inflação de 3,7% em 2022, acima, portanto, do centro da meta.
Ao apontar para o descasamento expressivo entre as expectativas de inflação do Focus e a inflação implícita, Toledo diz acreditar que se trata de “uma boa dose da leitura de commodites em alta”. Alguns fatores pontuais também são destacados pelo economista, como a pressão nos preços de energia e discussões sobre alguns preços de energia e discussões sobre alguns preços administrados que podem ser reajustados somente em 2022.
Toledo nota, ainda, a percepção de que a inflação global pode ser um grande tema adiante e lembra que a inflação implícita de cinco anos nos Estados Unidos está em 2,7%, bem acima da meta do Federal Reserve (Fed).
Essa percepção é compartilhada por Pedro Dreux, gestor macro da Occam, que segue com a visão de que existe uma assimetria altista para as taxas de inflação implícita. “Temos um ambiente internacional mais inflacionário com a alta expressiva das commodities e surpresas inflacionárias no resto do mundo, com destaque para os EUA. Aqui no Brasil, a atividade econômica mostrou boa resiliência na segunda onda da pandemia, fazendo com que o setor de serviços recuperasse o patamar pré-crise agora no primeiro trimestre.”
Dreux nota que a questão energética está se tornando um problema e que, caso as chuvas permaneçam fracas no próximo período úmido, possa haver “um salto ainda maior nas tarifas de energia elétrica no ano que vem”. O gestor da Occam lembra que o ambiente de inflação mais alta se insere num quadro de fragilidade fiscal, em que “o BC sinaliza para o mercado que ainda manterá a política monetária expansionista”.
Assim como a Occam, a MAG investimentos também mantém posições compradas [aposta na alta] em inflação. De acordo com Claudio Pires, diretor de investimentos, o foco se dá, principalmente, em papéis de médio prazo, como as NTN-Bs com vencimento em 2026.
Pires acredita que esse nível é “batante esticado” para as implícitas. Ele revela que a MAG reduziu em cerca de um terço a posição devido a altas adicionais das expectativas de inflação, mas ainda mantém o tema no foco de sua estratégia diante do cenário global inflacionário e dos riscos locais.
Para Rogério Braga, sócio da Quantitas, não seria uma surpresa se as implícitas ficassem acima de 6% nos próximos meses, ao apontar que não estão altas demais no momento. Ele conta que a Quantitas desmontou posição comprada em inflação, mas enxerga espaço para eventualmente voltar a fazer tal operação. “Se me perguntarem, não acho que o nível está elevado demais. É compatível com um cenário de diversos riscos - fiscais, inflacionários e políticos”, diz.
Braga afirma, ainda, que a gestora mantém posição tomada (aposta na alta das taxas) em juros de curto prazo, mas que tem reduzido essa alocação por julgar que o mercado já “está no preço” adequado. No momento, a curva de juros aponta para a Selic acima de 6% no fim do ano. “Já temos os patamares para a saída da posição”, diz ele, completando que se trata da posição mais relevante em juros que a Quantitas tem atualmente.
A BNP Paribas Asset Management aumentou a exposição a NTN-Bs. “Tínhamos uma parcela de risco na curva prefixada, mas, com os riscos de inflação mais alta, migramos para as NTN-Bs”, diz Michael Kusunoki, gestor de renda fixa e multimercados da casa. “Jogamos a toalha. Achávamos que seriam pressões temporárias por conta de alimentos, mas começaram a aparecer outras coisas temporárias e estamos falando que são fatores temporários desde setembro. Fomos convencidos pelos fatos e voltamos a ter posição em NTN-B. A inflação pode durar mais do que imaginávamos anteriormente.”
Fonte: Valor Econômico NULL Fonte: NULL
O maior risco colocado no mercado se deveu, principalmente, à venda de 1,5 milhão de NTN-Bs com vencimento em maio de 2055. Quanto maior o prazo, mais alto é o risco que o mercado tem de absorver, o que gera uma elevação dos juros. Ontem, as taxas futuras subiram, em um movimento de ajuste após o megaleilão de NTN-Bs.
Com a venda de papéis de longo prazo, o Tesouro colocou no mercado R$ 16,7 milhões em risco (dv01, métrica que ajuda a verificar a quantidade de risco que o mercado absorve). O aumento da demanda dos papéis atrelados à inflação vem, justamente, numa temporada em que os riscos estão em alta e têm impulsionado as taxas de inflação embutidas nos ativos.
No momento em que o horizonte relevante da política monetária já contempla integralmente o ano-calendário de 2022, o contraste entre as projeções dos economistas no Boletim Focus e as taxas de inflação embutidas nos contratos futuros de cupom de IPCA (DAP) é bastante relevante. Enquanto no Focus a mediana das projeções aponta para uma inflação de 3,64% em 2022 - o que, por si só, já preocupa o BC diante do risco de desancoragem das expectativas -, a inflação implícita de 2022 extraída do DAP está em 5,17%, bem acima, portanto, do centro da meta (3,5%).
Na semana passada, o diretor de política monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, destacou a piora na dinâmica da inflação implícita em relação às expectativas contidas no Focus e disse que o movimento recente chama a atenção do Copom. “A política monetária tem que estar bastante atenta”, disse. Para ele, o início acelerado do processo de normalização dos juros e a manutenção do ritmo forte - de 0,75 ponto - “é a chave para controlar as expectativas e garantir que esse choque fique circunscrito a 2021 e seja, de fato, temporário”.
O economista-chefe da Bradesco Asset Management (Bram), Marcelo Toledo, projeta um ciclo ininterrupto e total de ajuste da política monetária. Para ele, a Selic deve terminar o ano em 6,25% e chegar a 6,5% em 2022. “O motivo principal está na percepção de uma atividade mais forte e de que o hiato do produto não é tão grande quanto os modelos tradicionais indicam”, diz.
Com projeção de crescimento de 4,3% neste ano, Toledo lembra que o impacto da segunda onda de casos de covid-19 na atividade foi pequeno. Assim, para o economista, a leitura de maior resiliência da economia contribui para uma migração da taxa de juros para o nível neutro. Além disso, a Bram trabalha com uma inflação de 3,7% em 2022, acima, portanto, do centro da meta.
Ao apontar para o descasamento expressivo entre as expectativas de inflação do Focus e a inflação implícita, Toledo diz acreditar que se trata de “uma boa dose da leitura de commodites em alta”. Alguns fatores pontuais também são destacados pelo economista, como a pressão nos preços de energia e discussões sobre alguns preços de energia e discussões sobre alguns preços administrados que podem ser reajustados somente em 2022.
Toledo nota, ainda, a percepção de que a inflação global pode ser um grande tema adiante e lembra que a inflação implícita de cinco anos nos Estados Unidos está em 2,7%, bem acima da meta do Federal Reserve (Fed).
Essa percepção é compartilhada por Pedro Dreux, gestor macro da Occam, que segue com a visão de que existe uma assimetria altista para as taxas de inflação implícita. “Temos um ambiente internacional mais inflacionário com a alta expressiva das commodities e surpresas inflacionárias no resto do mundo, com destaque para os EUA. Aqui no Brasil, a atividade econômica mostrou boa resiliência na segunda onda da pandemia, fazendo com que o setor de serviços recuperasse o patamar pré-crise agora no primeiro trimestre.”
Dreux nota que a questão energética está se tornando um problema e que, caso as chuvas permaneçam fracas no próximo período úmido, possa haver “um salto ainda maior nas tarifas de energia elétrica no ano que vem”. O gestor da Occam lembra que o ambiente de inflação mais alta se insere num quadro de fragilidade fiscal, em que “o BC sinaliza para o mercado que ainda manterá a política monetária expansionista”.
Assim como a Occam, a MAG investimentos também mantém posições compradas [aposta na alta] em inflação. De acordo com Claudio Pires, diretor de investimentos, o foco se dá, principalmente, em papéis de médio prazo, como as NTN-Bs com vencimento em 2026.
Pires acredita que esse nível é “batante esticado” para as implícitas. Ele revela que a MAG reduziu em cerca de um terço a posição devido a altas adicionais das expectativas de inflação, mas ainda mantém o tema no foco de sua estratégia diante do cenário global inflacionário e dos riscos locais.
Para Rogério Braga, sócio da Quantitas, não seria uma surpresa se as implícitas ficassem acima de 6% nos próximos meses, ao apontar que não estão altas demais no momento. Ele conta que a Quantitas desmontou posição comprada em inflação, mas enxerga espaço para eventualmente voltar a fazer tal operação. “Se me perguntarem, não acho que o nível está elevado demais. É compatível com um cenário de diversos riscos - fiscais, inflacionários e políticos”, diz.
Braga afirma, ainda, que a gestora mantém posição tomada (aposta na alta das taxas) em juros de curto prazo, mas que tem reduzido essa alocação por julgar que o mercado já “está no preço” adequado. No momento, a curva de juros aponta para a Selic acima de 6% no fim do ano. “Já temos os patamares para a saída da posição”, diz ele, completando que se trata da posição mais relevante em juros que a Quantitas tem atualmente.
A BNP Paribas Asset Management aumentou a exposição a NTN-Bs. “Tínhamos uma parcela de risco na curva prefixada, mas, com os riscos de inflação mais alta, migramos para as NTN-Bs”, diz Michael Kusunoki, gestor de renda fixa e multimercados da casa. “Jogamos a toalha. Achávamos que seriam pressões temporárias por conta de alimentos, mas começaram a aparecer outras coisas temporárias e estamos falando que são fatores temporários desde setembro. Fomos convencidos pelos fatos e voltamos a ter posição em NTN-B. A inflação pode durar mais do que imaginávamos anteriormente.”
Fonte: Valor Econômico NULL Fonte: NULL