Falhas no combate ao coronavírus devem afetar economia da América Latina no terceiro trimestre, diz FMI

Área: Fiscal Publicado em 01/07/2020 | Atualizado em 23/10/2023 Imagem coluna Foto: Divulgação
As falhas no combate à pandemia do novo coronavírus na América Latina vão afetar os indicadores econômicos da região também no terceiro trimestre de 2020.

O prenúncio é do Fundo Monetário Internacional (FMI), registrado no relatório "Previsões para América Latina e Caribe: Uma pandemia que se intensifica", divulgado nesta sexta-feira (26).

A análise toma por base o fato de que a América Latina concentra cerca de 25% dos casos mundiais do novo coronavírus e não apresenta ainda o achatamento das curvas de contágio. Com isso, a aposta é que medidas de distanciamento social precisem permanecer em vigor por mais tempo, gerando depressão e econômica e dificuldades de recuperação.

"Muitos países da região têm altos níveis de informalidade e pouco preparo para lidar com novos surtos, pela alta ocupação de leitos de UTI e pequena capacidade de testagem e monitoramento de doentes", diz Alejandro Werner, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI.

"Diante deste cenário, os países devem adotar bastante cautela ao considerar a abertura da economia e permitir que a ciência e os dados guiarem o processo", afirma.

Na última quarta-feira (24), o FMI revisou a previsão de queda das economias mundiais no relatório World Economic Outlook. O documento mostra uma piora generalizada para a atividade econômica em todo o globo, confirmando que os estragos econômicos da pandemia são mais intensos do que o previsto inicialmente.

A revisão para baixo aconteceu para todo o continente, mas o cenário para o Brasil é mais pessimista que a média. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve recuar 9,1% segundo a nova projeção, versus queda de 5,3% previstas pelo fundo em abril.

"As autoridades responderam fortemente à pandemia, com cortes expressivos da taxa de juros, pacotes fiscais e de liquidez, incluindo depósitos diretos em dinheiro aos grupos vulneráveis", diz Alejandro Werner. "A retirada dos estímulos, contudo, vai impactar o crescimento de 2021, já que a economia enfrentava problemas desde 2015/2016."

"Nesse contexto, políticas de acomodação monetária serão necessárias para apoiar a retomada, além de uma agenda fiscal para recuperar a confiança de investidores", resume.

Segundo o relatório de Alejandro Werner, a piora dos números teve como plano de fundo os resultados de produção mais negativos do primeiro trimestre e mostras de que o segundo trimestre também pode vir abaixo da projeção. Para o economista, os riscos de saúde pública são altos, mas é preciso observar o cenário financeiro de países desenvolvidos e monitorar as trocas possíveis para comércio exterior e financiamento de dívida como possível caminho de melhora.

"Surpresas positivas também podem acontecer. Os indicadores de economias desenvolvidas vieram melhores do que o esperado. O crescimento global também pode seguir o caminho, apoiando mais exportações, preços de commodities e o turismo", diz Werner.

Preocupação fiscal

O FMI ressalta que os países da região devem manter programas de estímulo à manutenção de empregos e de transferência de renda. No Brasil, é o caso do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e do Auxílio Emergencial.

Em especial em países de alta informalidade, o FMI fala que governantes devem achar "soluções criativas" para oferecer suporte às populações vulneráveis. Com o cenário geral de inflação baixa, a política monetária também deve continuar criando estímulos, segundo o relatório.

O fundo alerta, contudo, que os países não devem perder de vista a preocupação fiscal e com dívida pública. "O compromisso com planos de segurança fiscal de médio prazo e de reformas para crescimento sustentável serão chave para mitigar preocupações com a dívida", diz o texto.

Fonte: Portal G1 NULL Fonte: NULL