Estudo revela quem deve ganhar e perder com a Reforma Tributária; veja

Área: Fiscal Publicado em 19/08/2025

Estudo revela quem deve ganhar e perder com a Reforma Tributária; veja

Enquanto a alíquota estimada de 28% para o novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA) tem dominado o debate público, um estudo inédito da Omnitax revela impactos mais profundos da Reforma Tributária para os setores produtivos.

De acordo com a análise feita pela plataforma de inteligência tributária, o novo modelo de tributação sobre consumo, com foco no Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e na Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), deve ampliar os lucros líquidos da indústria em até 10 pontos percentuais e do varejo em até 5 pontos.

Por outro lado, o setor de serviços pode ter de aumentar seus preços em até 40% para manter a atual rentabilidade.

A principal explicação está na ampliação do sistema de créditos tributários: enquanto indústrias e comércios têm cadeias longas de fornecimento e, portanto, se beneficiarão com mais créditos, os prestadores de serviços, que têm estrutura baseada em mão de obra (o que não é creditável), arcarão com uma carga bem mais pesada, conforme o estudo.

Essa ampliação das base de crédito para os tributos não cumulativos sobre os bens de consumo será uma das principais mudanças da reforma tributária, na opinião de Marcos Camilo, CEO da consultoria Pulse Capital. “O IBS e a CBS vêm para substituir o ICMS, IPI, ISS PIS e COFINS e cada um tem uma regra de creditamento. Enquanto o IPI é o mais limitado, o ICMS tem limitações e o PIS e a COFINS têm menos, quando comparados entre si. Com a unificação dos sistemas, a possibilidade de tomada de crédito fica mais ampla”, afirma.

Segundo Paulo Zirnberger, CEO da Omnitax, a redução da carga indireta pode ser convertida em lucro ou competitividade. “O varejo, por exemplo, pode manter os preços e ganhar até 5 pontos de lucro líquido, ou reduzir os preços e sacrificar parte do ganho para aumentar participação de mercado”, afirma o responsável pelo estudo, que envolveu entrevistas quantitativas e qualitativas com mais de 100 clientes, cruzando simulações financeiras com dados de CFOs de grandes empresas.

Na indústria, o ganho potencial é ainda mais expressivo. Mantendo os preços atuais, o setor pode ampliar o resultado operacional em 17 pontos e o lucro líquido em até 10 pontos percentuais, conforme simulações feitas pela Omnitax. Já uma eventual redução de preços, para conquistar mercado, levaria a uma perda de até 5 pontos no lucro líquido.

Impacto nos serviços

A conta, no entanto, não fecha para os prestadores de serviços. “A dinâmica é cruel”, resume Zirnberger. O setor enfrentará um aumento médio de 267% na carga referente aos novos tributos indiretos, conforme o estudo. Para compensar o efeito no resultado, seria necessário um aumento de até 40% nos preços cobrados aos clientes.

Mesmo com a possibilidade de crédito integral para quem contrata serviços, o repasse de preços não será simples. “Muitos clientes já manifestaram interesse nos créditos, mas não aceitarão reajustes dessa magnitude. A tendência é buscar fornecedores mais competitivos”, alerta o executivo

Esse cenário pode acelerar a migração de empresas do Simples Nacional para regimes de lucro real ou presumido. “As grandes empresas vão exigir que seus prestadores estejam alinhados à lógica de créditos tributários da reforma. Para o Simples, isso representa um desafio operacional e de gestão significativo”, diz o executivo.

Reorganização setorial

O movimento de redistribuição da carga tributária deve provocar uma reacomodação estrutural nos preços da economia, com impactos duradouros, na avaliação do vice-presidente do Corecon-SP, de Haroldo da Silva. “A indústria, historicamente mais tributada, será aliviada. Os serviços, antes menos onerados, passam agora a liderar a lista dos mais impactados”, resume.

Segundo ele, nessa nova lógica tributária, haverá vencedores e perdedores, dependendo da capacidade de cada empresa de se adaptar. Isso inclui a reavaliação da localização dos fornecedores, da cadeia de distribuição e dos contratos com parceiros. “Tenho ajudado empresas a criar comitês de transição. O impacto será transversal, atingindo jurídico, contabilidade, marketing, logística…”, diz.

Ainda assim, o saldo para a economia pode ser positivo no médio prazo. “A reforma corrige distorções históricas e torna o sistema mais transparente. Em termos de impacto potencial, ela será similar ao que o Plano Real representou em 1994”, afirma Silva.

Mesmo assim, ele adverte que a transição não será simples nem homogênea. “Empresas mal preparadas podem sair do mercado. Já as que conseguirem se adaptar terão oportunidades de crescer num ambiente mais racional e previsível.”

Um dos avanços mais significativos será a transparência. Segundo Silva, o consumidor passará a saber exatamente quanto paga de imposto na aquisição de bens e serviços, o que hoje não é claro. “Atualmente, a carga tributária brasileira gira em torno de 33% do PIB, e quase 50% disso é sobre a compra de bens e serviços. Com a reforma, a tributação sobre o consumo continuará alta, mas será mais bem distribuída entre os setores. Isso reforça a necessidade de também avançarmos em uma reforma sobre a renda”, afirma.

Fonte: Infomoney