Risco fiscal pressiona inflação ‘implícita’
Área: Fiscal Publicado em 24/09/2021
Taxa implícita, obtida pela diferença entre os juros futuros e as taxas das NTN-Bs, saltou nos últimos dias
Antes mesmo de o IPCA de agosto ser conhecido, os preços dos ativos já embutiam cenários bastante agressivos para a inflação deste ano e de 2022. A dinâmica inflacionária mais preocupante no curto prazo se soma à percepção de agravamento da crise hídrica e aos elevados riscos fiscais e políticos e faz com que os agentes do mercado precifiquem a inflação em níveis cada vez mais altos.
O próprio Banco Central tem se mostrado bastante atento ao comportamento das expectativas e das taxas de inflação de mercado, as chamadas “implícitas”. Grosso modo, a inflação implícita é obtida pela diferença entre os juros futuros e as taxas das NTN-Bs, títulos públicos atrelados ao IPCA, cuja demanda continua a se mostrar resiliente no atual cenário.
Dados da Renascença DTVM apontam que a inflação embutida na NTN-B com vencimento em agosto de 2022 saltou de 5,96% na quarta-feira para 6,12% ontem. No início do mês, estava em 5,46%. Já a inflação precificada pela NTN-B para maio de 2023 passou de 4,92% no início de setembro para 5,54% ontem.
De acordo com Emanuel Moura, estrategista da Renascença, o movimento mais recente de avanço das implícitas “teve como gatilho o aumento das bandeiras tarifárias, sendo puxado, também, pelos riscos climáticos e hidrológicos e preços de combustíveis”.
Os níveis elevados também são observados na inflação obtida por meio dos futuros de cupom de IPCA (DAP). Esses contratos apontam para a inflação em 8,73% neste ano e em 4,76% em 2022, nível bem acima do centro da meta do Banco Central, de 3,5%.
Para Claudio Pires, diretor de investimentos da MAG, a elevação das implícitas, especialmente as de prazo intermediário, também reflete a piora da percepção de risco. Ele observa que, no momento, todos os vetores vão na mesma direção e indicam alta da inflação, o que pressiona as implícitas.
Pires destaca que a discussão sobre o pagamento de precatórios realça o risco fiscal “em um governo que tem pretensão de fazer um Bolsa Família maior e com claro viés populista”. Além disso, o profissional da MAG Investimentos lembra a crise hídrica e a paralisação de caminhoneiros nos últimos dias.
“Isso relembra os impactos que [a greve dos caminhoneiros] causou na inflação em 2018 e, também na quarta-feira, o mercado estressou como um todo em reação aos eventos do 7 de Setembro. Os ruídos políticos e fiscais também têm impacto na inflação implícita, pois atuam sobre as expectativas”, diz.
Para o economista-chefe da SulAmérica, Newton Rosa, os níveis atuais das implícitas sugerem que, para o mercado, o Banco Central não será capaz de “domar” o IPCA. “Apesar do nível atual de inflação que temos hoje, acho que temos, sim, que crer na capacidade do BC. É uma instituição de bastante credibilidade. O que me faz pensar que, possivelmente, a inflação de mercado talvez esteja mais salgada do que deveria”, diz Rosa.
O profissional afirma que o risco fiscal, concentrado na possibilidade de um rompimento ou flexibilização do teto de gastos, e a turbulência política doméstica têm contribuído para um aumento do prêmio de risco generalizado entre os ativos brasileiros. “De fato, quanto mais o quadro se agrava política e fiscalmente, você vai alimentar as pressões inflacionárias, o câmbio vai ficar pressionado e vai virar uma pressão contínua de preços. Mas o BC está disposto a fazer o que for preciso para ancorar a inflação, como ele tem repetido.”
Fonte: Valor Econômico NULL Fonte: NULL
Antes mesmo de o IPCA de agosto ser conhecido, os preços dos ativos já embutiam cenários bastante agressivos para a inflação deste ano e de 2022. A dinâmica inflacionária mais preocupante no curto prazo se soma à percepção de agravamento da crise hídrica e aos elevados riscos fiscais e políticos e faz com que os agentes do mercado precifiquem a inflação em níveis cada vez mais altos.
O próprio Banco Central tem se mostrado bastante atento ao comportamento das expectativas e das taxas de inflação de mercado, as chamadas “implícitas”. Grosso modo, a inflação implícita é obtida pela diferença entre os juros futuros e as taxas das NTN-Bs, títulos públicos atrelados ao IPCA, cuja demanda continua a se mostrar resiliente no atual cenário.
Dados da Renascença DTVM apontam que a inflação embutida na NTN-B com vencimento em agosto de 2022 saltou de 5,96% na quarta-feira para 6,12% ontem. No início do mês, estava em 5,46%. Já a inflação precificada pela NTN-B para maio de 2023 passou de 4,92% no início de setembro para 5,54% ontem.
De acordo com Emanuel Moura, estrategista da Renascença, o movimento mais recente de avanço das implícitas “teve como gatilho o aumento das bandeiras tarifárias, sendo puxado, também, pelos riscos climáticos e hidrológicos e preços de combustíveis”.
Os níveis elevados também são observados na inflação obtida por meio dos futuros de cupom de IPCA (DAP). Esses contratos apontam para a inflação em 8,73% neste ano e em 4,76% em 2022, nível bem acima do centro da meta do Banco Central, de 3,5%.
Para Claudio Pires, diretor de investimentos da MAG, a elevação das implícitas, especialmente as de prazo intermediário, também reflete a piora da percepção de risco. Ele observa que, no momento, todos os vetores vão na mesma direção e indicam alta da inflação, o que pressiona as implícitas.
Pires destaca que a discussão sobre o pagamento de precatórios realça o risco fiscal “em um governo que tem pretensão de fazer um Bolsa Família maior e com claro viés populista”. Além disso, o profissional da MAG Investimentos lembra a crise hídrica e a paralisação de caminhoneiros nos últimos dias.
“Isso relembra os impactos que [a greve dos caminhoneiros] causou na inflação em 2018 e, também na quarta-feira, o mercado estressou como um todo em reação aos eventos do 7 de Setembro. Os ruídos políticos e fiscais também têm impacto na inflação implícita, pois atuam sobre as expectativas”, diz.
Para o economista-chefe da SulAmérica, Newton Rosa, os níveis atuais das implícitas sugerem que, para o mercado, o Banco Central não será capaz de “domar” o IPCA. “Apesar do nível atual de inflação que temos hoje, acho que temos, sim, que crer na capacidade do BC. É uma instituição de bastante credibilidade. O que me faz pensar que, possivelmente, a inflação de mercado talvez esteja mais salgada do que deveria”, diz Rosa.
O profissional afirma que o risco fiscal, concentrado na possibilidade de um rompimento ou flexibilização do teto de gastos, e a turbulência política doméstica têm contribuído para um aumento do prêmio de risco generalizado entre os ativos brasileiros. “De fato, quanto mais o quadro se agrava política e fiscalmente, você vai alimentar as pressões inflacionárias, o câmbio vai ficar pressionado e vai virar uma pressão contínua de preços. Mas o BC está disposto a fazer o que for preciso para ancorar a inflação, como ele tem repetido.”
Fonte: Valor Econômico NULL Fonte: NULL