Regime fiscal ‘não é mais o mesmo’, diz Zeina
Área: Fiscal Publicado em 19/04/2021 | Atualizado em 23/10/2023
No momento em que ameaças à regra do teto de gastos tornaram-se frequentes, o regime fiscal do Brasil tem sofrido um processo de deterioração e não é mais o mesmo. “Pode não ser o do passado pré-regra do teto, mas não é mais o mesmo”, afirmou a consultora econômica Zeina Latif ao participar da “Live do Valor ”. Para ela, a pandemia piorou a dinâmica fiscal brasileira não somente devido ao aumento dos gastos, mas também porque “não vemos perspectiva de conserto”.
Na avaliação da economista, o Brasil gastou muito e rapidamente no ano passado para uma pandemia que não se sabia ao certo quando acabaria. Para ela, embora a regra do teto esteja sendo cumprida, o espírito do regime fiscal se perdeu. “O fato de se poder gastar fora do teto não quer dizer que está tudo bem. Gastamos muito sem pensar no dia de amanhã e gastamos mal. Fomos errando e isso fere o espírito da disciplina fiscal.”
Com as discussões recentes em torno do Orçamento para este ano, Zeina notou que as emendas parlamentares estão “muito desconectadas” das necessidades do Brasil no momento. O governo, avaliou a consultora econômica, também está desconectado das necessidades do país e esse assunto “não foi tratado com seriedade”.
Zeina, inclusive, afirmou que não há um compromisso do governo com a questão fiscal como no passado e disse ser “inaceitável” a PEC Emergencial ter sido tão tímida. Nesse sentido, para ela, reformas fiscais precisam de envolvimento do Poder Executivo para que possam tramitar no Congresso. A economista apontou, ainda, que não há uma definição clara de prioridades no governo e nem uma boa qualidade dos projetos que chegam ao Congresso, além de falhas na articulação política.
Nesse ambiente de elevadas incertezas no campo fiscal e também na questão sanitária no Brasil, Zeina disse que o Banco Central deveria ter ido mais devagar no início do atual ciclo de normalização da política monetária, além de se manter atento ao que acontece com a inflação e com a questão fiscal, que tem peso relevante no balanço de riscos da autoridade monetária. O momento, para Zeina, “é de dar sinal e agir com serenidade” na condução dos juros.
A eficácia da sinalização do BC de que elevará mais os juros agora para fazer um ciclo mais curto de normalização é “muito baixa”, na avaliação de Zeina. “Como você vai garantir que vai fazer um ciclo mais curto? Com que garantias em um ambiente tão incerto?”, questiona. A elevação de 0,75 ponto percentual na Selic no mês passado, inclusive, foi um elemento adicional de incerteza de acordo com a economista, para quem o momento prescreveria calma e perseverança.
Além disso, para ela, houve uma “mudança relativamente abrupta” no discurso do BC, cuja comunicação estava mais inclinada a estímulos antes. “Não existe uma fórmula de bolo, mas eu preferiria uma estratégia mais suave e sem dizer se [o ciclo] vai ser longo, se vai ser curto, sem tentar ficar discutindo se a normalização é parcial. Você está subindo juros, está analisando e pronto. Teria sido mais sensato.”
Apesar do processo de elevação dos juros, Zeina diz acreditar que o momento atual é de valorização do dólar diante de um processo de vacinação acelerado nos Estados Unidos e da estagnação do comércio mundial. Além disso, a economista se mostrou cética em relação a uma valorização adicional dos preços das commodities e apontou que, mesmo que seu cenário estivesse errado e que as commodities ganhassem ainda mais força, “o Brasil não teria capacidade de surfar essa onda” devido às questões internas.
Fonte: Valor Econômico NULL Fonte: NULL
Na avaliação da economista, o Brasil gastou muito e rapidamente no ano passado para uma pandemia que não se sabia ao certo quando acabaria. Para ela, embora a regra do teto esteja sendo cumprida, o espírito do regime fiscal se perdeu. “O fato de se poder gastar fora do teto não quer dizer que está tudo bem. Gastamos muito sem pensar no dia de amanhã e gastamos mal. Fomos errando e isso fere o espírito da disciplina fiscal.”
Com as discussões recentes em torno do Orçamento para este ano, Zeina notou que as emendas parlamentares estão “muito desconectadas” das necessidades do Brasil no momento. O governo, avaliou a consultora econômica, também está desconectado das necessidades do país e esse assunto “não foi tratado com seriedade”.
Zeina, inclusive, afirmou que não há um compromisso do governo com a questão fiscal como no passado e disse ser “inaceitável” a PEC Emergencial ter sido tão tímida. Nesse sentido, para ela, reformas fiscais precisam de envolvimento do Poder Executivo para que possam tramitar no Congresso. A economista apontou, ainda, que não há uma definição clara de prioridades no governo e nem uma boa qualidade dos projetos que chegam ao Congresso, além de falhas na articulação política.
Nesse ambiente de elevadas incertezas no campo fiscal e também na questão sanitária no Brasil, Zeina disse que o Banco Central deveria ter ido mais devagar no início do atual ciclo de normalização da política monetária, além de se manter atento ao que acontece com a inflação e com a questão fiscal, que tem peso relevante no balanço de riscos da autoridade monetária. O momento, para Zeina, “é de dar sinal e agir com serenidade” na condução dos juros.
A eficácia da sinalização do BC de que elevará mais os juros agora para fazer um ciclo mais curto de normalização é “muito baixa”, na avaliação de Zeina. “Como você vai garantir que vai fazer um ciclo mais curto? Com que garantias em um ambiente tão incerto?”, questiona. A elevação de 0,75 ponto percentual na Selic no mês passado, inclusive, foi um elemento adicional de incerteza de acordo com a economista, para quem o momento prescreveria calma e perseverança.
Além disso, para ela, houve uma “mudança relativamente abrupta” no discurso do BC, cuja comunicação estava mais inclinada a estímulos antes. “Não existe uma fórmula de bolo, mas eu preferiria uma estratégia mais suave e sem dizer se [o ciclo] vai ser longo, se vai ser curto, sem tentar ficar discutindo se a normalização é parcial. Você está subindo juros, está analisando e pronto. Teria sido mais sensato.”
Apesar do processo de elevação dos juros, Zeina diz acreditar que o momento atual é de valorização do dólar diante de um processo de vacinação acelerado nos Estados Unidos e da estagnação do comércio mundial. Além disso, a economista se mostrou cética em relação a uma valorização adicional dos preços das commodities e apontou que, mesmo que seu cenário estivesse errado e que as commodities ganhassem ainda mais força, “o Brasil não teria capacidade de surfar essa onda” devido às questões internas.
Fonte: Valor Econômico NULL Fonte: NULL