Contadores debatem como problemas na Americanas atingiram R$ 20 bilhões

Área: Contábil Publicado em 16/01/2023 | Atualizado em 23/10/2023 Imagem coluna Foto: Divulgação
Fonte: G1/Reuters

A revelação pela Americanas de inconsistências contábeis de cerca de R$ 20 bilhões mobilizou especialistas em contabilidade que tentam entender como um rombo desse tamanho passou despercebido em uma das maiores empresas de varejo da América Latina.

As ações da Americanas desabaram 77% na quinta-feira (12) após a varejista afirmar que detectou problemas na contabilização de operações com fornecedores e bancos.

Sergio Rial, que havia assumido a presidência da empresa apenas nove dias antes, renunciou ao cargo, junto com o diretor de relações com investidores, André Covre. Eles tinham substituído Miguel Gutierrez, que estava há 20 anos no comando do grupo.

Especialistas em contabilidade ouvidos pela Reuters mantêm algum ceticismo frente a explicações divulgadas até agora e apontaram falta de detalhamento no balanço da empresa, ainda que tenham destacado a necessidade da divulgação de mais informações sobre as inconsistências, inclusive com relação à origem dos fatos.

"O que chama muito a atenção é o tamanho do negócio. 20 bilhões de reais não é fácil de esconder", disse Eric Barreto, professor do Insper. "Está todo mundo falando sobre isso...principalmente a gente que trabalha com a área", afirmou ele, doutor em ciências contábeis, citando grupos de mensagem com auditores.
Rial disse a investidores em evento fechado na quinta-feira que operações de "risco sacado", quando uma empresa contrata um banco para realizar a antecipação de recebíveis a fornecedor, foram registradas incorretamente pela Americanas por anos na conta de fornecedores quando deveriam ter sido consideradas dívidas com instituições financeiras.

Uma das dúvidas levantadas pelos contadores é se os 20 bilhões de reais e os juros dessas operações de risco sacado estão integralmente no balanço da varejista ou não. Isso porque o balanço patrimonial da Americanas referente ao terceiro trimestre a data-base do valor de 20 bilhões é o final de setembro mostra um passivo com fornecedores de apenas cerca de 5 bilhões de reais.

Rial disse, observando sua curta permanência na empresa, que até onde ele sabe, todo o valor divulgado está integralmente no balanço da Americanas. Porém, ele afirmou que a discrepância ocorre pois a quitação de juros das operações em questão, além de outros mecanismos redutores, foi usada, em sua visão de modo incorreto, para diminuir o passivo de fornecedores.

Em meio à falta de detalhes e ao caráter ainda preliminar da apuração, a explicação não parece ter ganhado totalmente os especialistas, que aguardam por mais detalhes. "Não sabemos até que ponto esses juros foram registrados ou não", afirmou Ahmed El Khatib, coordenador do Instituto de Finanças da Fecap.

"Se as operações estão dentro do balanço, é um problema de apresentação. Mas eu não sei se elas estão totalmente dentro do balanço", disse Barreto.

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