Agenda fiscal e reformas devem ditar ritmo do investimento

Área: Fiscal Publicado em 16/09/2020 | Atualizado em 23/10/2023 Imagem coluna Foto: Divulgação
As medidas de isolamento social e as incertezas sobre a duração da pandemia colapsaram os investimentos produtivos no segundo trimestre. A queda foi de 15,4% ante os três primeiros meses do ano, um recorde nessa comparação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, a distância do investimento em relação ao pico, no segundo trimestre de 2013, ampliou-se para 37,3%.

O recuo só não foi maior por causa dos efeitos contábeis da importação de plataformas de petróleo, sem os quais o investimento teria caído 22,9% em relação ao segundo trimestre de 2019, diz o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). O dado do IBGE mostrou queda interanual de 15,2% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida de tudo que se investe em máquinas e equipamentos, construção e pesquisa e inovação).

Para os próximos meses, a retomada consistente do investimento está ligada à solução do impasse fiscal, em especial como o governo pretende abrigar os gastos sociais do Renda Brasil. As reformas estruturais, como a tributária e administrativa, ganham peso em um cenário de provável furo do teto de gastos.

A prorrogação do auxílio emergencial, anunciada ontem pelo governo, vai ajudar a sustentar o consumo nos próximos meses e aliviar a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no ano. Em contrapartida, o anúncio mantém dúvidas sobre a questão fiscal do país e pode aumentar a incerteza, lembra Luana Miranda, pesquisadora da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundaão Getulio Vargas (Ibre/FGV).

“O auxílio deve dar um impulso no consumo das famílias e na atividade de comércio e indústria. Mas, pelo lado dos investimentos, isso gera uma preocupação sobre não se perder de vista uma âncora fiscal”, afirma.

Apesar de recorde, o tombo do investimento foi menor do que o previsto pelo Ibre/FGV, sobretudo por causa do desempenho da construção, que caiu 11,1% ante o segundo trimestre de 2019 - o Ibre esperava baixa de 15,5%. “É um setor difícil de projetar”, diz, lembrando que o investimento na construção é diferente do valor adicionado ao setor

Os ajustes usados pelo IBGE para calcular o PIB durante a pandemia também explicam a queda menor do que a projetada para os investimentos, diz José Ronaldo Souza Jr., diretor de Estudos e Pesquisas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O indicador do Ipea para investimento estimava baixa de 24,5% neste item entre o primeiro e segundo trimestres. “A explicação possível está no tratamento dado ao mercado de trabalho e à construção”, afirma Souza Jr.

O diretor do Ipea avalia que é importante avançar em reformas que ataquem o crescimento das despesas públicas e também nas que elevem a produtividade. “Isso hoje é a grande incerteza do Brasil e o que impacta a recuperação do investimento”, diz.

Souza Jr. chama a atenção para a recuperação da taxa de poupança, que foi de 15,5% no segundo trimestre, ante 13,7% um ano antes. “O setor privado aumentou a poupança, pode ser que o dado de investimento melhore mais rápido do que se esperaria. Mas para a poupança virar investimento é preciso que se tenham perspectivas melhores.”

Fonte: Portal Valor Econômico NULL Fonte: NULL