Para 2021, permanece grande incerteza sobre economia
Área: Fiscal Publicado em 10/12/2020 | Atualizado em 23/10/2023
A pandemia do coronavírus representou uma parada súbita da economia a partir do fim do primeiro trimestre do ano, cujos efeitos se concentraram no segundo trimestre. A partir de junho, começou a haver uma melhora da atividade, com o relaxamento progressivo da quarentena, somado ao efeito progressivo da transferência de renda governamental.
O impacto dessa melhora se fez sentir no terceiro trimestre do ano, o que explica as fortes variações positivas, na comparação trimestral com ajuste sazonal. Porém, se olharmos as variações ano a ano, ainda estamos em terreno negativo, que deverá ser superado somente no primeiro trimestre do ano que vem.
Dessa forma, a trajetória do PIB terá o formato de um “V”, com queda concentrada na primeira metade de 2020 e recuperação na segunda metade. Para 2021, permanece uma grande incerteza sobre qual será o comportamento da economia.
Crescimento não deverá ser linear, com o início de 2021 sofrendo com o fim do pagamento do auxílio emergencial.
No ano que vem, alguns fatores deverão atuar em direções opostas, o que dificulta a projeção. Na direção negativa, teremos o fim da transferência de renda para as famílias e o retorno ao Bolsa Família.
O valor total da transferência deverá chegar a R$ 320 bilhões em 2020, ou seja, aproximadamente 4,3% do PIB. Além disso, o governo fez outros estímulos fiscais, como transferências a Estados e municípios e crédito subsidiado.
O resultado primário do governo sairá de um déficit ao redor de R$ 800 bilhões (11% do PIB) em 2020 para algo em torno de R$ 240 bilhões (3% do PIB) em 2021. Dessa forma, teremos uma contração fiscal de 8% do PIB, o que é muito significativo.
Ainda no campo das influências negativas, a incerteza em relação a um ajuste fiscal mais duradouro no Brasil permanece, o que tem gerado prêmios de risco elevados no mercado financeiro, prejudicando a captação de recursos das empresas e famílias, seja porque as taxas de juros a termo estão elevadas, seja porque a taxa de desconto nas ações está mais alta do que poderia estar. Nesse capítulo, se inclui ainda a dificuldade do Brasil de atrair capitais externos, cujo fluxo já foi bem mais abundante em tempos passados.
Na direção positiva, temos também alguns fatores. Em primeiro lugar, a confiança dos agentes econômicos deverá melhorar com o possível fim da pandemia e uma vacinação em massa da população.
Com isso, o índice de mobilidade social tende a voltar aos padrões normais, o que é muito favorável ao setor de serviços, severamente atingido pela pandemia.
O consumo das famílias deverá aumentar, reduzindo a poupança forçada que ocorreu no ano de 2020, quando muitas famílias reduziram o consumo por causa das restrições de mobilidade.
Em segundo lugar, vamos emergir da pandemia com uma taxa de juros extremamente baixa, negativa em termos reais. Não se sabe ao certo quanto tempo irá durar essa condição monetária mas, por ora, ela tende a favorecer a atividade econômica.
Em terceiro lugar, o mundo passa pela mesma situação de recuperação vigorosa que o Brasil. Em particular, o crescimento da China e dos países asiáticos tende a ser muito forte, o que já puxou para cima os preços das commodities.
O Brasil deve ser beneficiado por esse ciclo, haja vista que é um produtor importante de produtos agrícolas e minerais. Além disso, toda a cadeia industrial ligada ao agronegócio e ao setor metalmecânico tende a se beneficiar.
Em quarto lugar, temos uma taxa de câmbio muito depreciada em termos reais, o que favorece o setor exportador e induz a substituição de importações.
Dessa forma, temos vetores em direções opostas atuando em 2021. Por uma questão estatística, o PIB deverá ter um carregamento estatístico positivo de aproximadamente 3%.
Isso ocorre porque o PIB é calculado na média dos trimestres, em relação ao ano anterior. Como em 2020 houve uma recuperação em “V”, a média ficará muito baixa (-4%).
Se o PIB se mantiver em 2021 no mesmo patamar que estará no fim de 2020, a média dos trimestres crescerá 3%.
Nossa projeção é de um crescimento de 3,7% em 2021. Dessa forma, acreditamos em um crescimento modesto “na margem”, em 2021. Esse crescimento não deverá ser linear. O início do ano deverá ser mais fraco, com o fim das transferências governamentais.
No entanto, acreditamos que os fatores positivos vão prevalecer e puxar o PIB para cima. Em um horizonte mais longo, a recuperação global em um contexto de juros baixos nos ajuda, mas não podemos descuidar do lado fiscal e continuamos dependendo de reformas para ter um crescimento mais sustentado.
Fonte: Portal Valor Econômico NULL Fonte: NULL
O impacto dessa melhora se fez sentir no terceiro trimestre do ano, o que explica as fortes variações positivas, na comparação trimestral com ajuste sazonal. Porém, se olharmos as variações ano a ano, ainda estamos em terreno negativo, que deverá ser superado somente no primeiro trimestre do ano que vem.
Dessa forma, a trajetória do PIB terá o formato de um “V”, com queda concentrada na primeira metade de 2020 e recuperação na segunda metade. Para 2021, permanece uma grande incerteza sobre qual será o comportamento da economia.
Crescimento não deverá ser linear, com o início de 2021 sofrendo com o fim do pagamento do auxílio emergencial.
No ano que vem, alguns fatores deverão atuar em direções opostas, o que dificulta a projeção. Na direção negativa, teremos o fim da transferência de renda para as famílias e o retorno ao Bolsa Família.
O valor total da transferência deverá chegar a R$ 320 bilhões em 2020, ou seja, aproximadamente 4,3% do PIB. Além disso, o governo fez outros estímulos fiscais, como transferências a Estados e municípios e crédito subsidiado.
O resultado primário do governo sairá de um déficit ao redor de R$ 800 bilhões (11% do PIB) em 2020 para algo em torno de R$ 240 bilhões (3% do PIB) em 2021. Dessa forma, teremos uma contração fiscal de 8% do PIB, o que é muito significativo.
Ainda no campo das influências negativas, a incerteza em relação a um ajuste fiscal mais duradouro no Brasil permanece, o que tem gerado prêmios de risco elevados no mercado financeiro, prejudicando a captação de recursos das empresas e famílias, seja porque as taxas de juros a termo estão elevadas, seja porque a taxa de desconto nas ações está mais alta do que poderia estar. Nesse capítulo, se inclui ainda a dificuldade do Brasil de atrair capitais externos, cujo fluxo já foi bem mais abundante em tempos passados.
Na direção positiva, temos também alguns fatores. Em primeiro lugar, a confiança dos agentes econômicos deverá melhorar com o possível fim da pandemia e uma vacinação em massa da população.
Com isso, o índice de mobilidade social tende a voltar aos padrões normais, o que é muito favorável ao setor de serviços, severamente atingido pela pandemia.
O consumo das famílias deverá aumentar, reduzindo a poupança forçada que ocorreu no ano de 2020, quando muitas famílias reduziram o consumo por causa das restrições de mobilidade.
Em segundo lugar, vamos emergir da pandemia com uma taxa de juros extremamente baixa, negativa em termos reais. Não se sabe ao certo quanto tempo irá durar essa condição monetária mas, por ora, ela tende a favorecer a atividade econômica.
Em terceiro lugar, o mundo passa pela mesma situação de recuperação vigorosa que o Brasil. Em particular, o crescimento da China e dos países asiáticos tende a ser muito forte, o que já puxou para cima os preços das commodities.
O Brasil deve ser beneficiado por esse ciclo, haja vista que é um produtor importante de produtos agrícolas e minerais. Além disso, toda a cadeia industrial ligada ao agronegócio e ao setor metalmecânico tende a se beneficiar.
Em quarto lugar, temos uma taxa de câmbio muito depreciada em termos reais, o que favorece o setor exportador e induz a substituição de importações.
Dessa forma, temos vetores em direções opostas atuando em 2021. Por uma questão estatística, o PIB deverá ter um carregamento estatístico positivo de aproximadamente 3%.
Isso ocorre porque o PIB é calculado na média dos trimestres, em relação ao ano anterior. Como em 2020 houve uma recuperação em “V”, a média ficará muito baixa (-4%).
Se o PIB se mantiver em 2021 no mesmo patamar que estará no fim de 2020, a média dos trimestres crescerá 3%.
Nossa projeção é de um crescimento de 3,7% em 2021. Dessa forma, acreditamos em um crescimento modesto “na margem”, em 2021. Esse crescimento não deverá ser linear. O início do ano deverá ser mais fraco, com o fim das transferências governamentais.
No entanto, acreditamos que os fatores positivos vão prevalecer e puxar o PIB para cima. Em um horizonte mais longo, a recuperação global em um contexto de juros baixos nos ajuda, mas não podemos descuidar do lado fiscal e continuamos dependendo de reformas para ter um crescimento mais sustentado.
Fonte: Portal Valor Econômico NULL Fonte: NULL