Agro recorre a ESG para tentar minimizar seus impactos ambientais
Área: Contábil Publicado em 29/09/2021
Fonte: Folha de Pernambuco
https://www.folhape.com.br/economia/agro-recorre-a-esg-para-tentar-minimizar-seus-impactos-ambientais/199169/
Somente em 2021, o Brasil registrou a pior seca dos últimos 91 anos, sofreu com geadas repentinas e viu nevar no Sul do país. Os fenômenos, que provocaram a destruição de pastagens, a queima de lavouras e a perda de safras, estão diretamente ligados a um mesmo problema: a crise do clima.
O agronegócio brasileiro é um dos grandes prejudicados pelas mudanças climáticas, mas também é um dos setores que mais contribuem com a emissão de gases de efeito estufa.
Diferentemente de China, Estados Unidos e Europa, o principal impacto do Brasil no clima não vem da geração de energia ou do setor industrial, mas das emissões relacionadas ao uso da terra, o que coloca o agro no centro da discussão ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa).
Segundo o Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), braço do Observatório do Clima, a agropecuária é a segunda atividade que mais emite gases de efeito estufa do Brasil, respondendo por 28% do total.
Contudo, essa proporção pode ser ainda maior, já que a maior causa de emissões no país é a mudança no uso da terra, que também está ligada ao agro. Juntas, as duas atividades são responsáveis por 72% das emissões brasileiras.
"De 1970 até 2019, houve um aumento de 190% das emissões do agronegócio. A tendência é de crescimento, o que é negativo não só para o Brasil, mas para o clima do planeta como um todo", afirma Renata Potenza, coordenadora de clima e cadeias agropecuárias do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).
Segundo ela, quando se observa o uso da terra, o principal fator de emissão é o desmatamento, que na Amazônia é puxado pela expansão pecuária.
Com o problema no radar de consumidores, investidores e compradores internacionais, frigoríficos brasileiros têm se movimentado para mostrar que estão realmente alinhados à agenda ambiental e aos princípios ESG.
No ano passado, a Marfrig anunciou a meta de ter, até 2030, uma cadeia produtiva livre de desmatamento. Segundo a empresa, todos os fornecedores diretos já são comprometidos com o desmate zero, seja legal ou ilegal.
Outro frigorífico que pretende eliminar o problema de sua cadeia até 2030 é a Minerva Foods, maior exportadora de carne bovina da América do Sul.
A companhia tem 100% de seus fornecedores diretos mapeados no Brasil e, desde agosto de 2021, também monitora os indiretos que estão no bioma amazônico.
De acordo com Taciano Custódio, diretor de sustentabilidade da Minerva Foods, os resultados preliminares do rastreamento indicaram que 99,8% das fazendas indiretas que negociaram com as unidades do frigorífico no Mato Grosso e em Rondônia estavam regulares. Os resultados não diferem muito do que foi encontrado na auditoria do TAC da Carne. O Termo de Ajuste de Conduta firmado entre frigoríficos e o Ministério Público Federal do Pará exige que as companhias comprem animais apenas de fornecedores livres de infrações ambientais e trabalho escravo.
A auditoria mostrou que, em 2018, a Minerva adquiriu 776 animais de fornecedores irregulares, o que representa 0,3% dos 297 mil bovinos comprados pelo frigorífico no Pará.
Segundo Custódio, esses 776 animais passaram pelo monitoramento que a Minerva faz de seus fornecedores, mas os dados do TAC mostram que a grande maioria (99,7%) está em conformidade. "É um problema sistêmico e a gente está nessa evolução constante."
Para Lisandro Inakake, responsável pelo Boi na Linha, programa do Imaflora para impulsionar compromissos da cadeia pecuária na Amazônia, as ferramentas de rastreamento que os frigoríficos vêm adotando hoje são boas, mas é preciso entender como ocorre o processo de compra.
"A ferramenta vai indicar um cenário, mas tem a tomada de decisão: compro ou não compro, assumo ou não assumo o risco?"
Segundo ele, a maior parte das companhias só consegue visualizar os problemas de seus fornecedores diretos. "Existe um movimento para monitorar o indireto e começar a tomar decisões em relação à compra do gado que foi criado ou recriado em área desmatada", diz.
Apesar do desafio, Taciano Custódio diz que a Minerva é menos vulnerável a problemas ambientais, visto que o foco do produtor que vende para o frigorífico é acessar mercados internacionais –mais rigorosos em relação à qualidade dos produtos.
"A Minerva é quase como um Alphaville do boi. Como eu tenho que entregar um animal jovem, pesado e com boa qualidade para o meu cliente na China, na União Europeia e nos Estados Unidos, o meu produtor não é esse [que desmata]", afirma.
Segundo ele, boa parte do desmatamento vinculado à pecuária vem de pequenas propriedades, que não conseguem entregar um animal com o nível de exigência dos importadores.
"Um produtor de baixo calibre, que não tem investimento em genética, em rotação de pastagem, em manejo animal, dificilmente vai chegar em um macho de 550 kg com 24 meses de idade. Isso é tecnologia", diz.
Arroto do boi Mas a pegada ambiental da pecuária não está só no desmatamento. Considerando as emissões diretas do setor, a atividade que mais polui (61%) é a chamada fermentação entérica -o popular "arroto do boi". Esse ponto costuma ser mais desafiador para as empresas do setor.
Segundo Custódio, a Minerva Foods tem um programa de baixa emissão que incentiva boas práticas em seus fornecedores, como o controle de degradação do solo, a intensificação da produção e o uso adequado de fertilizantes. No entanto, ainda não há iniciativas para a fermentação entérica. NULL Fonte: NULL
https://www.folhape.com.br/economia/agro-recorre-a-esg-para-tentar-minimizar-seus-impactos-ambientais/199169/
Somente em 2021, o Brasil registrou a pior seca dos últimos 91 anos, sofreu com geadas repentinas e viu nevar no Sul do país. Os fenômenos, que provocaram a destruição de pastagens, a queima de lavouras e a perda de safras, estão diretamente ligados a um mesmo problema: a crise do clima.
O agronegócio brasileiro é um dos grandes prejudicados pelas mudanças climáticas, mas também é um dos setores que mais contribuem com a emissão de gases de efeito estufa.
Diferentemente de China, Estados Unidos e Europa, o principal impacto do Brasil no clima não vem da geração de energia ou do setor industrial, mas das emissões relacionadas ao uso da terra, o que coloca o agro no centro da discussão ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa).
Segundo o Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), braço do Observatório do Clima, a agropecuária é a segunda atividade que mais emite gases de efeito estufa do Brasil, respondendo por 28% do total.
Contudo, essa proporção pode ser ainda maior, já que a maior causa de emissões no país é a mudança no uso da terra, que também está ligada ao agro. Juntas, as duas atividades são responsáveis por 72% das emissões brasileiras.
"De 1970 até 2019, houve um aumento de 190% das emissões do agronegócio. A tendência é de crescimento, o que é negativo não só para o Brasil, mas para o clima do planeta como um todo", afirma Renata Potenza, coordenadora de clima e cadeias agropecuárias do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).
Segundo ela, quando se observa o uso da terra, o principal fator de emissão é o desmatamento, que na Amazônia é puxado pela expansão pecuária.
Com o problema no radar de consumidores, investidores e compradores internacionais, frigoríficos brasileiros têm se movimentado para mostrar que estão realmente alinhados à agenda ambiental e aos princípios ESG.
No ano passado, a Marfrig anunciou a meta de ter, até 2030, uma cadeia produtiva livre de desmatamento. Segundo a empresa, todos os fornecedores diretos já são comprometidos com o desmate zero, seja legal ou ilegal.
Outro frigorífico que pretende eliminar o problema de sua cadeia até 2030 é a Minerva Foods, maior exportadora de carne bovina da América do Sul.
A companhia tem 100% de seus fornecedores diretos mapeados no Brasil e, desde agosto de 2021, também monitora os indiretos que estão no bioma amazônico.
De acordo com Taciano Custódio, diretor de sustentabilidade da Minerva Foods, os resultados preliminares do rastreamento indicaram que 99,8% das fazendas indiretas que negociaram com as unidades do frigorífico no Mato Grosso e em Rondônia estavam regulares. Os resultados não diferem muito do que foi encontrado na auditoria do TAC da Carne. O Termo de Ajuste de Conduta firmado entre frigoríficos e o Ministério Público Federal do Pará exige que as companhias comprem animais apenas de fornecedores livres de infrações ambientais e trabalho escravo.
A auditoria mostrou que, em 2018, a Minerva adquiriu 776 animais de fornecedores irregulares, o que representa 0,3% dos 297 mil bovinos comprados pelo frigorífico no Pará.
Segundo Custódio, esses 776 animais passaram pelo monitoramento que a Minerva faz de seus fornecedores, mas os dados do TAC mostram que a grande maioria (99,7%) está em conformidade. "É um problema sistêmico e a gente está nessa evolução constante."
Para Lisandro Inakake, responsável pelo Boi na Linha, programa do Imaflora para impulsionar compromissos da cadeia pecuária na Amazônia, as ferramentas de rastreamento que os frigoríficos vêm adotando hoje são boas, mas é preciso entender como ocorre o processo de compra.
"A ferramenta vai indicar um cenário, mas tem a tomada de decisão: compro ou não compro, assumo ou não assumo o risco?"
Segundo ele, a maior parte das companhias só consegue visualizar os problemas de seus fornecedores diretos. "Existe um movimento para monitorar o indireto e começar a tomar decisões em relação à compra do gado que foi criado ou recriado em área desmatada", diz.
Apesar do desafio, Taciano Custódio diz que a Minerva é menos vulnerável a problemas ambientais, visto que o foco do produtor que vende para o frigorífico é acessar mercados internacionais –mais rigorosos em relação à qualidade dos produtos.
"A Minerva é quase como um Alphaville do boi. Como eu tenho que entregar um animal jovem, pesado e com boa qualidade para o meu cliente na China, na União Europeia e nos Estados Unidos, o meu produtor não é esse [que desmata]", afirma.
Segundo ele, boa parte do desmatamento vinculado à pecuária vem de pequenas propriedades, que não conseguem entregar um animal com o nível de exigência dos importadores.
"Um produtor de baixo calibre, que não tem investimento em genética, em rotação de pastagem, em manejo animal, dificilmente vai chegar em um macho de 550 kg com 24 meses de idade. Isso é tecnologia", diz.
Arroto do boi Mas a pegada ambiental da pecuária não está só no desmatamento. Considerando as emissões diretas do setor, a atividade que mais polui (61%) é a chamada fermentação entérica -o popular "arroto do boi". Esse ponto costuma ser mais desafiador para as empresas do setor.
Segundo Custódio, a Minerva Foods tem um programa de baixa emissão que incentiva boas práticas em seus fornecedores, como o controle de degradação do solo, a intensificação da produção e o uso adequado de fertilizantes. No entanto, ainda não há iniciativas para a fermentação entérica. NULL Fonte: NULL